Artigo – Pobre África!

            Em artigo recente, intitulado “O chamado da África Subsaariana”, José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), chamou a atenção para os efeitos deletérios da globalização nesta região.

            A África Subsaariana possuía 975 milhões de habitantes em 2016, ou seja, mais de 80% do 1,2 bilhão de habitantes do continente. Desse total, nada menos que 224 milhões sofriam de desnutrição crônica, repito, crônica, ou seja, um em quatro africanos subsaarianos encontrava-se nessa situação. O mais grave é que este número vem aumentando, pois em 2015 eram 200 milhões.

            O drama não para por aí. Em 2014, segundo o Banco Mundial, 11 milhões de jovens da região ingressaram no mercado de trabalho, mas apenas 3 milhões de vagas foram criadas, e o restante foi engrossar o gigantesco “exército de reserva”, a face escancarada do desemprego estrutural.

            Os ideólogos liberais, os analistas do mercado financeiro, tem se vangloriado do processo de globalização em curso em nosso planeta, fechando os olhos para os imensos prejuízos que a extrema financeirização da economia, com sua natureza cada vez mais especulativa, tem causado às nações e aos povos do mundo inteiro. Certamente a maior vítima desse processo tem sido a parcela mais pobre da população, seja nos países desenvolvidos (sim, eles também têm alguns milhões de pobres), seja nos países subdesenvolvidos, onde os pobres e miseráveis são contados às centenas de milhões.

Graziano conclui que “a crise épica dos refugiados, adornada pelo féretro de corpos no Mediterrâneo, sacode os ombros das sociedades ricas para lembrar que a globalização encurtou as distâncias, e que o vizinho agora se chama África e tem problemas”. Resta saber se Trump, May e demais dirigentes ocidentais têm algum apreço pela vizinhança.


Júlio Miragaya, Conselheiro do Cofecon e Presidente da Associação Nacional das Instituições de Planejamento, Pesquisa e Estatística – ANIPES

Artigo publicado na edição de 11/01/2018 do Jornal de Brasília.