Artigo – Bom pra quem?

  • 21 de dezembro de 2017
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Os analistas do mercado financeiro andam comemorando a previsão de crescimento do PIB brasileiro em 1% este ano e entre 1,5% e 3% em 2018. Há, de fato, razão para comemorações? Analisando-se a situação do ponto de vista estritamente econômico, claro que, após uma crise econômica que derrubou o PIB em 7% por dois anos sucessivos (2015 e 2016), qualquer crescimento é positivo. Ocorre que, conforme a chamada Lei de Zarnowitz (economista liberal norte-americano), que ao estudar os ciclos econômicos históricos concluiu que após as recessões profundas seguem fortes retomadas, no formato de “U” ou “V”, tal crescimento mostra-se pífio.

Mas o problema não reside aí, e sim no fato de que a retomada do crescimento econômico, mesmo que pífia, vem acompanhada de uma persistente piora dos indicadores sociais. Dados do IBGE revelam que o número de pobres em 2016 alcançou 52,2 milhões, nove milhões a mais do que em 2014, e este número deverá continuar aumentando em 2017 e 2018. Em 2017, graças a um mercado de trabalho desaquecido e a uma reforma trabalhista anti-trabalho, cerca de 90% dos novos empregos gerados foram sem carteira de trabalho. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), neste o Brasil voltou a entrar no “Mapa da Fome”, condição de que havia saído desde 2014.

Para piorar as coisas, o mesmo governo Mishell Temer, que escancara as riquezas de nosso pré-sal para as transnacionais, estuda acabar com a atual regra de correção do Salário Mínimo, instituindo seu virtual congelamento. Ora, o valor do Salário Mínimo (R$ 937,00), mesmo tendo dobrado em termos reais nos governos Lula e Dilma, é ainda miserável. Segundo o Dieese, deveria ser de R$ 3.731,00 para sustentar com dignidade uma família com 4 pessoas. Bem disse Emanoel Araújo, diretor do museu Afro Brasil: “como ter cidadania com um salário de 900 reais?”.

Júlio Miragaya – Presidente do Conselho Federal de Economia