Sessão Especial sobre livros e palestra de Jan Kregel marcam o encerramento da segunda noite do CBE

As obras “Princípios da Economia Política e Tributação”, de David Ricardo; e o volume I de “O Capital”, de Karl Marx foram homenageadas em uma sessão especial realizada durante o XXII Congresso Brasileiro de Economia nesta quinta-feira, 7 de setembro. Isso porque, neste ano, as publicações completam 200 anos e 150 anos, respectivamente. Os professores Luiz Antonio de Matos Macedo (Universidade Estadual de Montes Claros) e Maurício Coutinho (Universidade Estadual de Campinas) discutiram a obra de Ricardo e João Machado Borges Neto (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e João Antônio de Paula (Cedeplar-UFMG) a obra de Marx.

O evento teve como mediadores o presidente do Conselho Federal de Economia, Júlio Miragaya, e o presidente da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Economia (ANGE), Eduardo Rodrigues. “São dois dos principais expoentes da ciência econômica do planeta e essas datas importantes não poderiam passar em branco. Temos um tempo curto para discutirmos pensamentos tão profundos e complexos, mas brindamos com a exposição de professores extremamente gabaritados para apresentarem um pouco sobre o debate desses grandes economistas da nossa história”, afirmou Miragaya.

Eduardo Rodrigues destacou que a cerimônia marca a conclusão de um processo que durou meses, com a participação de várias instituições do Brasil. Explicou que a ANGE congrega docentes, discentes e profissionais da área de Economia e que a entidade tem por objetivo zelar pelas diretrizes curriculares. Além disso, convidou os presentes a participarem do Congresso da ANGE, a ser realizado de 4 a 6 de outubro no Rio de Janeiro, para discutirem o currículo. “Recebemos várias participações e ficamos felizes com o resultado que alcançamos com o prêmio que hoje entregaremos”, afirmou o presidente da ANGE.

Após as apresentações dos professores, teve início a palestra do economista norte-americano Jan Kregel, que provocou a plateia a pensar sobre coisas simples de uma maneira diferente. “Estamos acostumados a aceitar que estabilidade econômica é uma coisa boa e instabilidade geralmente é ruim; que ter finanças é algo bom e não tê-las é ruim. Vou sugerir que a maneira que estamos vendo as finanças e olhamos para a estabilidade da economia podem ser a raiz da desigualdade salarial que testemunhamos nos últimos 35 anos”, afirmou Kregel.

Para o economista norte-americano, nos esquecemos da falha identificada por Keynes sobre a distribuição desigual da renda e da riqueza. “Thomas Piketty nos diz que a desigualdade está pior do que sempre foi. Quando estudei em Cambridge, nos anos 60, já era comum ver nos jornais que os problemas básicos da economia inglesa estavam ligados ao aumento da desigualdade de distribuição de renda e riqueza. Embora ainda o aumento da desigualdade, ou seja, a concentração da renda nas mãos de 1% da população global, não temos muitas explicações sobre por que motivo isso ocorre”, refletiu.

Kregel argumentou que se houver movimento de crise financeira ou de aumento de risco, as regulamentações sempre vão garantir a proteção aos banqueiros, mas questionou quem seria responsável pelo aumento do desemprego. “O trabalho é que vai pagar o preço por esse risco na forma de desemprego. Não há mecanismo, nem ‘banco central do trabalho’ que possa intervir quando temos crise financeira, com perdas no lado da responsabilidade do sistema financeiro. Em geral, o trabalho tende a não ser credor do sistema financeiro. Se olharmos a ideia de regulamentação como suportar ou apoiar os ativos dos credores e isso significar declínio no sistema financeiro, isso também é significativo no aumento da desigualdade salarial. Em todos os países, a desigualdade salarial responde ao nível de emprego”, afirmou o economista.

Concurso de resenhas

Nesta sexta-feira, na cerimônia de encerramento do XXII CBE, serão entregues as menções honrosas aos vencedores de concurso de resenha realizado sobre os livros homenageados. O estudante Danne Vieira, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), escreveu a melhor resenha sobre a obra de David Ricardo e o estudante Pedro Rubin Costa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi o que mais se destacou na avaliação do livro de Marx. Ao final da premiação aos estudantes, serão sorteados livros dos dois autores entre os presentes.