Artigo – Sinais de concorrência e competição

Alegria de trabalhador brasileiro tem durado pouco mesmo, inclusive, a deste escriba da Beira da Prainha (meu local de nascimento), que nos dias atuais é a região onde está construído o Santuário Nossa Senhora Auxiliadora (1929), aliás, local Sacrossanto onde me casei, em 1986, com a dona companheira e engenheira sanitarista de primeiro time, Dinalva.

Mas a alegria a que me refiro, tem a ver com o fato de quando eu ia abastecer nos postos de combustíveis e percebia, a cada abastecida, redução dos preços de combustíveis nas bombas.

Parecia uma tendência de sairmos da condição de compradores da gasolina mais cara do mundo, meu bolso agradecia e ainda sobravam mais alguns trocados para comprar as Bailarinas do Cuiabá – “peraputangas”.

No meu entendimento de economista, esse fato econômico decorria da percepção dos empresários do ramo começarem a entender que mercado é uma referência e não uma conduta a ser seguida cegamente. Digo mais: a concorrência é praticada pelo agente econômico de acordo com a estrutura de mercado que seu estabelecimento está inserido.

Os livros de microeconomia hoje adotados nos cursos de Ciência Econômica pelo Brasil afora tratam esse assunto de maneira bem aprofundada. Mercado concorrencial, mercado monopolizado, mercado oligopolizado concentrado, mercado oligopolizado diferenciado, mercado de concorrência monopolística são algumas das estruturas de mercado existentes e trabalhadas teoricamente.

No limite de tolerância da Ciência Econômica e dos colegas de profissão, arriscamos afirmar que o mercado de postos de combustíveis, em Cuiabá e Várzea-Grande, é um mercado oligopolizado concorrencial, poucas marcas, mas com um grande número de firmas estabelecido.

Assim, se há concorrência – agentes envolvidos no jogo de mercado – há de existir competição, sendo que esta é resultado da capacidade da firma estruturar sua função de produção (combinação dos fatores), observar a configuração da indústria, comércio ou serviços em que está inserida, fornecimento de matérias-primas e produtos para revenda (os donos de postos de gasolina (sobre)vivem diante de um monopsônio) e as condições macroeconômicas e de infraestrutura vigentes para o lançamento do seu produto e preço competitivos diante do seu ambiente de atuação e conduta.

Nos finalmentes, com concorrência (que é o ideal necessário) ou não; com ou sem a teoria econômica (que nos fundamenta diante dos problemas econômicos), o fato é que a alta, decorrente da tributação de PIS/COFINS incerta e inoportuna, interrompeu uma sequência de baixas, especialmente sobre o litro do etanol hidratado, que em junho, atingiu o menor valor dos últimos dois anos.

A alta do imposto será pretexto para manutenção do preço ao consumidor nas alturas e ainda ser responsável por eliminar a livre escolha do cidadão cuiabano e varzeagrandense, um dos poucos do País, que podia optar por abastecer, com preços acessíveis, pelo etanol ou pela gasolina.

Essa alta traz um efeito em cadeia que vai onerar toda a produção e inibir o poder de compra do cidadão. Tal medida poderá nos conduzir para uma reversão da tendência de acomodação baixista dos preços relativos da nossa economia local e nacional.


Ernani Lúcio Pinto de Souza é economista do Niepe/Fe/Ufmt e ms. em planejamento do desenvolvimento pela Anpec/Naea/Ufpa (elpsouza@ufmt.b)

PS.: Agradeço as sugestões de Marianna Peres, jornalista do Diário de Cuiabá especializada em assuntos do agronegócio, para as conclusões deste artigo.