Artigo – Corte Epistemológico e o Futuro da Economia

Corte Epistemológico nada mais é que mudança radical de paradigma. Uma mudança de métodos, conceitos, teorias e princípios. A epistemologia tem a afinidade com a filosofia – instrumento dos sábios na arte do pensar. A síntese filosófica quando detecta um corte epistemológico nas ciências conduz o pensador a fazer projeções mais ou menos seguras acerca do presente e do futuro.

Segundo artigo Mundo sem filosofia, publicado no Correio Braziliense de 21.07.2017 por Dioclécio Campos Junior: “A análise (científica) superou a síntese (filosófica), afastando-a do contexto da produção de conhecimentos. Há mais de um século, nenhuma teoria filosófica foi produzida. O desenvolvimento do ato de pensar, principalmente do humanismo, sofre absurdo desestímulo”.

O corte epistemológico é o sonho de consumo de todo cientista em qualquer área da ciência exata ou humana. Para o bem ou para o mal. Não creio que seja possível se controlar isso. Mas não podemos ignorá-los, principalmente seus efeitos sobre a economia, para onde todo conhecimento humano converge, seja pelas exatas seja vindo das ciências humanas e seus efeitos sobre o poder de empregabilidade da nação.

Na economia brasileira cita-se como exemplo de corte epistemológicos a terceirização do trabalho nos anos 90 do século passado; o código de defesa do consumidor, iniciado o debate no início dos anos 80; o discurso ecológico nos anos 90 do século passado; e a Lei Maria da Penha, no ano 2006. Quando ignoramos os cortes epistemológicos em economia, simplesmente as nossas convicções e decisões estarão comprometidas acerca do futuro.

O código de defesa do consumidor foi uma mudança positiva e sem ressalvas na relação comercial pois chamou a atenção da sociedade para a força da componente principal da Demanda Efetiva Keynesiana – o consumo das famílias. Famílias, um fato religioso, jurídico e de maior importância para a economia. O Banco Central sabe disso: 21% da renda familiar brasileira abastece o Sistema Financeiro Nacional mais a indústria da construção civil, a indústria automobilística, eletrônica, eletrodoméstica, ou seja, a indústria de bens duráveis e imóveis. Para a ciência econômica, desde Keynes, um economista britânico genial, a família precisa ser preservada como instituição fundamental da sociedade.

A Lei Maria da Penha promove um corte epistemológico espetacular nas relações familiares brasileiras. De modo que as estatísticas do IBGE no registro civil de divorciados encontram-se defasadas a partir de agosto de 2006. A partir dessa data, entrou em voga outro conceito ainda não observado pelo IBGE para coleta de dados relativos a família: Casais em Conflito Aberto – CCA, que difere em gênero, número e grau dos Casais em Conflito Fechado – CCF. Isto é, são conflitos em que o Estado não tem ingerência. É decisão genuína do casal. Para o CCA, ao contrário, a coleta de dados censitários se dá na polícia. O CCF se dá nos cartórios de registro civil.

A verdade é que o número de divórcios tem aumentado no Brasil. Quanto disso se deve ao CCA e quanto disso se deve ao CCF?  Sem essa informação não se pode avaliar o desempenho da Lei Maria da Penha para a Economia. Ela estimula a preservação ou destruição de famílias? Se no futuro o político analisando os dados de registro civil observar que a lei destrói mais que preserva as famílias, intuirá que a Lei precisará de reforma.

Em Brasília, segundo Jornal da Globo-DF, 38 casais em conflito aberto – CCA, são registrados por dia nas delegacias. É uma goteira na torneira que aos poucos vão se tornando aos milhares. A família também é um fato demográfico, não apenas componente principal da demanda efetiva é a responsável pela a taxa de natalidade que também tem caído no Brasil, o que reflete no equilíbrio futuro da previdência social e na capacidade de oferta da mão de obra.

Quanto ao discurso ecológico, tem produzido cortes epistemológicos por todo lado e tem muito a nos ensinar. Fique atento meu caro leitor. Segundo Folha de São Paulo de 26.07.2017 o Reino Unido e a França pretendem banir carros a combustão, ou seja, carro a gasolina ou a diesel, das ruas em 2040. No Brasil nós temos, além da gasolina e o diesel, o álcool. Será que já debruçamos o pensar sobre os cortes epistemológicos ecológicos atuais e do porvir sobre o futuro da economia brasileira?

A terceirização nas relações capital/trabalho é muito conhecida. Mas a terceirização na relação capital/capital não. Exatamente, a leitura de que a indústria brasileira e mundial, passa por um processo de desindustrialização não pode ser lida sem se levar em consideração o corte epistemológico promovido pela terceirização nas relações entre o setor industrial e o setor de serviços. Dos anos 1980 para hoje, 2017. Da minha leitura, se hoje a participação da indústria brasileira no PIB é 1/3 do verificado em 1980 significa maior integração entre indústria e serviço do que propriamente desindustrialização.

Carlos Magno – Economista e Escritor.