Artigo – O poder das elites

Quando o deputado fascista Jair Bolsonaro, que votou homenageando o torturador Carlos Ustra, bradou da tribuna: “Perderam em 1964, perderam em 2016!?, estava apenas descrevendo o que acontece no Brasil quando os interesses das elites, ainda que timidamente, são afetados: removem o que não lhes interessa. Faltaram na lista de Bolsonaro referências à feroz pressão sobre Vargas em 1954, que culminou em seu suicídio, e as espúrias manipulações nas eleições presidenciais de 1989 para impedir a vitória de Lula.

A ação coordenada do capital financeiro, da burguesia industrial (capitaneada pela Fiesp) e dos oito barões da grande mídia tem força para derrubar qualquer governo, até os eleitos por eles, como foi com Collor em 1992. O que acontece no Brasil guarda, em menor proporção, similaridade com o Chile em 1973, quando o governo socialista de Allende foi sistematicamente sabotado pela elite local, gerando e intensificando a crise econômica, senha para sua derrubada pelos generais, tendo à frente o sanguinário Pinochet.

É claro que os recorrentes e enormes erros cometidos por Dilma facilitaram a tarefa das elites, começando pela tentativa de agradá-las em 2014, abusando de concessões (isenções fiscais, desonerações e crédito subsidiado), tendo como resultado a crise fiscal. Posteriormente, após sua vitória no 2º turno, buscando “seduzir” o mercado financeiro, elevou a taxa de juros e nomeou Levy para operar um forte ajuste fiscal, facilitando a ação de Cunha e de uma falsa “base governista” que, com a “Pauta Bomba” na Câmara, inviabilizou o governo e aprofundou o quadro de recessão, senha para o pedido de impeachment.

Mas se afastar Dilma parece ser favas contadas, não será nada fácil para as elites promover o ajuste fiscal confiscando direitos sociais, como sinaliza o programa “Ponte para o futuro”, que mais parece “Ponte para o escuro”.

 

Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia